08 de
março – muito mais que receber homenagens é um dia de homens e mulheres
refletirem sobre as conquistas e lutas das mulheres por igualdade e dignidade.
Quando o “belo feminino” se torna um pesadelo e uma
obrigação
Por:
Rosangela Angelin
Militante
Feminista e Doutora em Direito
imagem retirada do site: www.not1.com.br |
A beleza
é, em sua própria essência, algo muito relativo. Prova disto, é que os padrões
de beleza modificaram-se no decorrer da história da humanidade. Dentro deste
contexto, a mulher continua sendo o alvo mais visado da “estética” corporal
dominante em nossa sociedade. A maior propagação dos “modelos de beleza” ocorre
através dos grandes meios de comunicação social, os quais reforçam os ditames
do consumismo capitalista, construindo um padrão de “beleza” dado como
obrigatório.
A corrida
desenfreada para as academias de ginástica e para a medicina estética, o uso de
produtos dietéticos para emagrecer, a anorexia e a bulimia, revelam uma espécie
de “ditadura da beleza” à qual a maioria das mulheres se condiciona em busca de
um corpo “perfeito”. Antes considerada um atributo da natureza, a beleza passou
a ser encarada como uma questão de “conquista” e, nesta lógica, é necessário
investir muito dinheiro e tempo a fim de se alcançar a aprovação da sociedade.
A beleza, ou melhor, a feiúra, acabou gerando um lucrativo mercado no mundo
capitalista. Com muita propriedade, a escritora americana Noemi Volf afirma, em
seu livro O mito da beleza, que „ a beleza é um sistema monetário assim
como o ouro. É o último e o melhor sistema de crenças que mantém a dominação
masculina intacta. Assim, o capitalismo usa as mulheres ‘bonitas’ como isca
para a venda dos seus produtos, lucrando com a discriminação das consideradas
‘feias’ que buscam o maior número de produtos possíveis para compensarem sua
‘feiúra’.”
A figura
da mulher é exposta e explorada como um “objeto”. Os grandes meios de
comunicação social vêm desempenhando um papel decisivo, através de revistas,
jornais, comerciais, novelas e programas em geral, contribuindo, desta maneira,
com a afirmação de um padrão de “beleza”. Um exemplo a ser considerado, são os
programas de televisão, principalmente os humorísticos, onde as mulheres são
apresentadas, em sua grande maioria, como figuras bonitas e atraentes, porém,
imbecis, desprovidas de idéias e vontades. Constantemente, em contraste a esta
figura, encontra-se uma mulher feia. Esta, por sua vez é apresentada como uma
pessoa chata e desinteressante, embora, algumas vezes dotada de certa
inteligência. Estes estereótipos reforçam a idéia de que são os “dotes físicos”
de uma mulher que realmente importam.
A
discriminação do corpo da mulher também ocorre, de uma forma específica,
através da maioria dos concursos de beleza, onde somente asmulheres jovens e
que se enquadram nos padrões estéticos impostos, podem participar. Com este intuito,
estas mulheres são avaliadas por meros critérios físicos. Analogicamente pode-se comparar os concursos de
beleza com as mostras de gado, realizadas em muitos estados do Brasil, onde os
animais desfilam na frente dos jurados e juradas que adotam critérios para a
avaliação física destes, como por exemplo, o tamanho e a textura dos pernis,
das paletas, a postura e desenvoltura do animal e, no caso das vacas, seus
úberes.
Lamentavelmente,
este exemplo evidencia a forte discriminação da mulher como ser humano, ditada
pelo mundo masculino e, muitas vezes, aceita pelas próprias mulheres. A
ideologia de “beleza física” acaba gerando uma inversão de valores, nos quais a
busca por um corpo perfeito, é considerada um sinônimo de aceitação social,
geralmente confundida com a felicidade.
Embora as
mulheres, ao longo de muitos anos, com muita luta e persistência, tenham
conquistado direitos e se afirmado em vários espaços da sociedade,
lamentavelmente, ainda é “normal” continuarmos sendo vistas e consideradas pelos
contornos físicos de nossos corpos, o que evidencia um empobrecimento da
capacidade de olhar o ser humano. Como afirma Maria Rita Kehl, “a maior
beleza está no corpo livre, desinibido em seu jeito de ser, gracioso porque
todo ser vivo é gracioso quando não vive oprimido e com medo. É a livre
expressão de nossos humores, desejos e odores; é o fim da culpa e do medo que
sentimos pela nossa sensualidade natural; é a conquista do direito e da coragem
a uma vida afetiva mais satisfatória; é a liberdade, a ternura e a
autoconfiança que nos tornarão belas. É essa a beleza fundamental.”
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